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Por Fernanda Machado, Terra da Gente
11/12/2023 11h34 Atualizado 11/12/2023
Fotógrafo teve dificuldades para registrar ave com qualidade?? por conta da velocidade característica do animal — 
: Daniel Mello
Quem gosta de natureza e 
grafa aves costuma utilizar, frequentemente,?? a palavra “lifer” para indicar que determinada espécie foi registrada pela primeira vez em um lugar e entrou para a?? lista dele. Pode ser um lifer para a cidade, para o estado e até para o país.
No final de novembro,?? seis amigos tiveram esse privilégio. Eles encontram uma ave que nunca havia sido registrada no Brasil: o andorinhão-preto ou common?? swift (Apus apus), uma ave migratória que ocorre no continente europeu e pode ter "se perdido" durante a migração até?? a África.
Grupo de amigos observadores de aves registram pela primeira vez um andorinhão-preto no Brasil — 
: Vladimir Bondar/iNaturalist
Gabriel e?? Daniel Mello, conhecidos como Irmãos Mello no mundo da observação de aves, estavam acompanhados de Rogério Pecciolli, Almir Simões, Antonio?? Schiaffarino e Pierre Maffre Dupuis na 3ª Expedição 
gráfica do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no norte fluminense, que?? abrange as cidades de Quissamã (RJ), Macaé (RJ) e Carapebus (RJ).
“Nós saímos para 
grafar na Reserva Jardim do Éden, que?? fica nos arredores do parque. Aquele dia amanheceu chuvoso, depois de uma virada de tempo, e pegou todos nós de?? surpresa. Tínhamos programado a ida a campo às 5h da manhã, mas não saiu como combinado", conta Gabriel.
"Felizmente, a chuva?? deu uma trégua por volta das 6h e a bicharada ficou bastante ativa nas primeiras horas do dia. Logo no?? início da nossa caminhada percebemos a passagem de um andorinhão de formato peculiar, o que nos chamou muita a atenção”,?? acrescenta.
Andorinhão-preto pode alcançar a velocidade de 500 quilômetros por dia — 
: Ged Tranter/iNaturalist
Segundo ele, aquele andorinhão destoava das aves?? que encontravam no estado do Rio de Janeiro. Embora fosse preto, era “rabilongo” - tinha cauda comprida -, o que?? excluía as chances de ser um taperuçu-preto (Cypseloides fumigatus). Ele também não tinha coleira, então não podia ser um andorinhão-estofador?? (Panyptila cayennensis).
“Num primeiro momento, meu irmão tentou fazer algumas 
s, mas todas ficaram sem foco e o andorinhão desapareceu. Ficamos?? em um mix de excitação e frustração. Pensamos que poderia ser um andorinhão-do-buriti (Tachornis squamata). Já seria um registro super?? inusitado para o local, mas a pulga atrás da orelha permanecia”, lembra Gabriel.
O grupo de observadores seguiu a caminhada, mas?? dessa vez com os olhos ainda mais atentos a qualquer novo sinal de andorinhão. Por sorte, em poucos minutos, Gabriel?? Mello percebeu ele passando novamente. “Dessa vez tínhamos o foco correto já selecionado na câmera para poder 
grafar o bicho?? com mais qualidade, já que ele voa a longa distância”.
Gabriel conta que, ainda assim, as 
s ficaram todas subexpostas, que?? é quando a imagem está exposta a pouca luz e fica escura. Por isso, o grupo só poderia confirmar o?? animal em casa. A suspeita de terem 
grafado um andorinhão-preto se confirmou após o tratamento digital das 
s.
Antes de divulgar?? em suas redes sociais, os amigos decidiram ouvir a opinião de colegas de fora do Brasil, que estavam mais habituados?? com as espécies do gênero Apus e a confirmação que esperavam veio.
“Ficamos bem felizes em observar uma espécie que jamais?? imaginaríamos poder ver no Brasil e, sobretudo, em contribuir com um dado que pode ajudar nos estudos sobre o comportamento?? migratório dela", diz Gabriel.
A espécie
De acordo com Luciano Lima, biólogo do Terra da Gente, a espécie migra da Europa para?? a África todos os anos durante o inverno. “É muito provável que seja um indivíduo que se perdeu durante essa?? migração e veio parar do outro lado do Atlântico”, explica.
Espécie tem distribuição ampla pela Europa, mas número de indivíduos tem?? diminuído de maneira acentuada nas últimas décadas — 
: Vladimir Bondar/iNaturalist
Ainda que tenha uma distribuição ampla pela Europa, o número?? de andorinhões-pretos tem diminuído de maneira acentuada nas últimas décadas, o que liga o sinal de alerta para que as?? listas de conservação sejam revistas.
“É uma ave que, geralmente, é apenas vistas em voo. Ela percorre inúmeras distâncias sem precisar?? voltar para o chão, fazendo tudo que precisa lá em cima: comer, dormir e copular".
"Sobre lagos e barragens, os andorinhões-pretos?? se juntam às andorinhas, mas eles voam bem mais alto que elas. Eles são maiores, possuem as asas mais compridas,?? plumagem escura e se destacam por bater as asas de forma forte e rígida”, explica Luciano.
O adulto tem comprimento médio?? de 16 cm, com envergadura de 42 a 48 cm. Só se empoleiram para pôr seus ovos, incubá-los e criar?? seus filhotes. Duas pesquisas sobre o andorinhão-preto mostraram algumas curiosidades comportamentais da espécie que surpreenderam os cientistas.
Um estudo publicado em?? 2023 na revista Current Biology mostrou que três andorinhões passaram 10 meses voando sem pousar uma única vez.
A pesquisa quis?? investigar o tempo de permanência da ave no ar e, para isso, monitorou um grupo de 13 indivíduos que migravam?? da Escandinávia (Dinamarca, Suécia e Noruega) para a África. Os outros fizeram aterrisagens muito curtas, mas ficaram 99% do tempo?? voando.
Outro estudo, publicado em 2023 no periódico iSience, acompanhou o deslocamento ao longo de nove dias e revelou que o?? animal é capaz de alcançar um deslocamento médio de 570 km/dia e máximo de 832 km/dia.
Os pesquisadores utilizaram o rastreamento?? por GPS para analisar as migrações sazonais dos andorinhões-pretos e perceberam que, durante o verão, quando estão retornando para a?? Europa, fazem voos com velocidades recordes. Já no inverno, o voo é mais lento e com algumas paradas.
No verão, andorinhão-preto?? faz voos com velocidades recordes, enquanto no inverno o voo é mais lento e com algumas paradas — 
: Revista?? iScience
Aves como os andorinhões, da família Apodidae, costumam alcançar velocidades muito altas, o que torna o registro do grupo de?? amigos bastante especial.
"Assim como esse migrante, que aparentemente errou a rota migratória e apareceu por aqui, outras espécies inusitadas podem?? dar as caras em locais não esperados. É preciso, portanto, que os observadores de aves estejam sempre em campo e?? prestando atenção em qualquer bicho, mesmo que pareça algo comum à primeira vista", comenta Gabriel Mello.
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